quarta-feira, 28 de junho de 2017

O ratinho do espelho

Era uma vez um ratinho muito triste porque não tinha amigos. Vivia muito sozinho num buraco do celeiro duma quinta.
Certo dia, num dos seus passeios atribulados, muitas vezes marcado por gritos e sustos dos humanos, parou detrás de uma pedra para se esconder e descansar.
Estava muito calor nesse dia. Respirava ofegante quando ouviu:
- Psst! Psst!
Olhou em volta e não viu ninguém.
- Psst! Psst!
Espreitou do outro lado da pedra e nada. Apenas se viam as ondas de calor no horizonte.
- Na tristeza tu vives,
Da solidão tu respiras,
Os teus olhos nada vêem,
Pois o teu coração nada sente.
O ratinho muito assustado perguntou:
- Quem fala?
- Sou a tua sombra!
- Ein?
- Sim, a tua sombra. Aquela que te acompanha e nunca vês.
-Tu falas?
-Claro! Ora esta!
-O que queres?
-Quero-te um conceder um desejo.
-O quê?
- Sim, porquê, não queres?
O ratinho não acreditava em nada no entanto resolveu arriscar.
-Eu desejo que gostassem de me ver. Que alguém estivesse sempre a olhar para mim.
-Assim seja!
De repente, o ratinho sentiu um calafrio e desmaiou.
Uns minutos mais tarde quando acordou, mal se conseguia mexer  e sentia algo estranho no estômago. Quando olhou para baixo tinha um espelho colado na barriga e seu corpo era feito de pano. Estava preso num berço e à sua frente estava um bebé humano a olhar fixamente para si.
Tentou falar com dificuldade. Aflito procurou a sua sombra:
- Sombra! Sombra! Onde estás?
- Estou aqui! O que queres mais?
- Estou preso!
- Estás mas tens sempre companhia e quem olhe para ti.
- Mas o bebé olha-se no espelho!
- Sim, é verdade mas nem todos que te olham e acompanham te vêem, apenas tentam encontrar-se a si próprios e quando não encontram fogem.